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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Se a religião é o ópio do povo, as ideologias são o crack e o óxi do cristianismo


Certa vez plantei uma muda de orégano junto a uma muda de tomilho, certo tempo depois o orégano tinha gosto de tomilho e o tomilho tinha cheiro de orégano. Se eu usasse aquele orégano para temperar uma pizza ela ia ficar com um gosto estranho, ia ser uma pizza com sabor de algo que não era pizza; da mesma forma, se eu temperasse um peixe com aquele tomilho, ele ia ficar cheirando a pizza, o que era passava uma sensação muito estranha na hora de comer.

Com o cristianismo e as ideologias não é diferente. Se não plantarmos as mudas em lugares bem distintas de nossas mentes/corações, em um dado tempo não teremos nem uma nem a outra, perderemos o senso crítico e trataremos tudo como sendo a mesma coisa. Teremos ideologias que tem cheiro de cristianismo e um cristianismo que tem sabor de ideologias e, ao tentarmos temperar o mundo, acabaremos por fazer uma bizarrice tremenda.

Acho que é ingenuidade crer que podemos ser cristãos isentos de ideologias, somos seres sociais altamente sincréticos e, de uma forma ou de outra, acabamos incorporando ideologias - mas a questão é: elas não devem servir como ponto de partida ou como ponto de chegada do cristianismo.

Teologias com um viés ideológico ou com outro não são teologias mais maduras, mas sim teologias ideológicas, híbridos bizarros de coisas bem distintas. Essas teologias não colaboram diretamente com o fortalecimento da Igreja e consequentemente com a proclamação do Reino de Deus, mas antes fortalecem ideologias proclamando o reino de algum deus.

Essa não é uma crítica nova, e se parasse na crítica de nada teria proveito. O que proponho é um total recall – um desmatar da horta de nossas mentes e nossos corações, um reset intelectual e emocional para colocar as coisas em seu devido lugar. Precisamos parar de achar que nossa forma de ver o mundo é a correta. Precisamos plantar novas mudas puras em lugares bem distintos de nossas mentes e nossos corações, e dar a essas mudas a importância que é devida para cada uma delas. Se verdadeiramente somos cristãos, o cristianismo não deve ter o mesmo peso, a mesma importância que nossas ideologias, e logo merece receber mais espaço e mais cuidado para que este produza mais fruto que nossas ideologias – nosso objetivo deve ser produzir cada vez mais fruto do cristianismo e cada vez menos fruto de ideologias.

 A sinceridade e o esclarecimento permitem nos habilitam a distinguir entre as folhas do orégano e do tomilho para que plantemos suas mudas em lugares bem distintos de nossos corações e de nossas mentes. A sinceridade e o esclarecimento permitem que paremos de entulhar os nossos “quartos” com pilhas e mais pilhas de conceitos bagunçados, sem distinção entre o que é cristianismo do que é alguma ideologia. A sinceridade e o esclarecimento criam prateleiras em cômodos distintos de nossa “casa” para que organizemos de forma sensata nossos valores, princípios e ideais, distinguindo o que é cristianismo daquilo que é ideologia.

“Com sabedoria se constrói a casa, e com discernimento se consolida. Pelo conhecimento os seus cômodos se enchem do que é precioso e agradável.” Provérbios 24:3-4

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A militância evangélica contra politicas GLBTs é um desserviço ao Reino de Deus!

Hoje recebi o e-mail de um querido amigo, pastor de uma amada igreja batista. Esse meu amigo me encaminhou um e-mail que já tem circulado há algum tempo no meio evangélico, trata-se de uma “matéria eletrônica” que afirma que o Deputado “Jean [Wyllis] publicou várias mensagens dizendo que cristãos são doentes, homofóbicos, preconceituosos, violentos, ignorantes e fanáticos, e que ele se dedicará ainda mais a eliminar a influência do cristianismo na sociedade.”

Toda vez que recebe uma denúncia desse tipo trato logo de pesquisar na fonte, de verificar quem é o repórter investigativo, se existe algum interesse por trás da denúncia, e, consequentemente, se a denúncia merece minha consideração. Portanto, antes de encaminhar e-mails siga umas dicas:
1.     Você verificou a história antes de encaminhar este e-mail? Verificou na fonte?
2.     Quem fez essa denúncia?
3.     Quais são as verdadeiras motivações por traz da denúncia?
4.     Essa denuncia é realmente confiável?
5.     (E, para mim, o mais importante) Quais são as consequências de encaminhar esse e-mail/ de repassar essa denúncia?


Concluo com as mesmas palavras que encaminhei para este meu amigo:
“Cuidado para não entrar na onda! Esse cristianismo militante contra as políticas GLBTs em nada se parece com o cristianismo de Jesus, que estava muito mais preocupado com os falsos ensinos dos falsos mestres do que com as condutas romanas que diferiam vertiginosamente da conduta judaica-cristã. Eu não vejo amor em nenhuma dessas linhas, bem pelo contrario, vejo ódio, medo, egoísmo e hipocrisia! Não entre na onda dessa gente! Não encaminhe esse lixo com ar de religioso, porque ele é fétido, podre e em nada contribui com os valores do reino. Se a causa GLBTs é algo que mexe tanto com você, a primeira coisa que precisa fazer é se tornar amigo de GLBTs, rachar pão com eles, andar uma milha a mais com eles e ama-los a ponto de enxergar a imagem de cristo neles. Só ai, quando estamos verdadeiramente próximos e humildes, sem as traves nos olhos, é que estaremos habilitados a ajudarmos o próximo a tirar as traves de seus próprios olhos. 
Amo você cara, e me dói o coração ver você entrar nessa!”




Caso tenha interesse em ver a “denúncia” na integra com a nota do gabinete do Deputado Jean Wyllis, por favor, verifique esse link.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Bipolares guiando as ovelhas pelo "caminho"

Ao publicar um texto com o titulo de "Casamento gay é legalizado no Brasil. STF torna união estavel homoafetiva reconhecida pela justiça" Uma seguidora do "movimento" "Caminho da Graça" fez um pronunciamento assustador:



"Liberdade! Abre as asas sobre nós!Como disse Pastor Bregantim: 'A vida está acima de qualquer, 'ismo' qualquer mesmo.Aos seguidores de Jesus de Nazaré a vida sempre estará acima de qualquer estrutura ou sistema religioso' Abraço à tod@s!”

Minha resposta instantânea (a la Caio Fabio após ter tomado um calmante)
"O Carlos Bregantim mais uma vez me surpreende... e eu achando que ele e o Caio Fabio ainda partilhavam da mesma base doutrinária! Por fim, a unica diferença entre eles e o Ricardo Gondim é que o Gondim tem um bom discurso acadêmico. Bipolares guiando as ovelhas pelo caminho... que perigo!"

Sinto muito pelos talentos de tão formidáveis lideres sendo desperdiçados por suas mentes confusas, sinto mais ainda pelas ovelhas, que estes chamam de "companheiros de caminhada", que iludidos por um discurso de "paz e amor gospel" (bem parecido com o discurso de tantos gurus nos anos 60) não percebem que passaram a trilhar um caminho bem diferente do caminho trilhado por Jesus e seus apóstolos.

Sei que as chagas causadas por muitas instituições religiosas e por muitos lideres hipócritas é avassaladora, machuca, aleija mas não mata! Isso eu garanto, não existe dor ou trauma que seja capaz de apagar o irresistível chamado Divino, nem capaz de se opor à perseverança Divina.

Já vi lideres que caíram em pecado (escândalos sexuais, financeiros, etc) se levantarem e voltarem a ser útil para a proclamação do evangelho de Cristo, mas o mesmo não pode ser dito de lideres que abraçam pensamentos que contrariam diretamente as Escrituras Sagradas... esses normalmente morrem confusos e distantes do verdadeiro Caminho. Para evitar uma critica recorrente, não estou dizendo que estes não são salvos, essa competência não cabe a mim, mas o caminho que estes escolhem guiar seus companheiros/ovelhas certamente não é o Caminho. Prefiro acreditar que estes estejam doentes, que sejam de fato “bipolares”, pelo menos, no tempo certo haverá cura até mesmo para estes.

A Graça tem sido muito mal interpretada, ela não é a aceitação de tudo, nem “a paz com todos os homens”. O nome disso é politicagem! A Graça é, antes de mais nada destruidora do ego, o que significa que a partir de então meus conceitos, vontades ou dodóis não tem mais valor nem primazia sobre quem eu sou. A graça não é acolhedora, ela é transformadora; ela não abraça todos, está sobre todos mas se faz eficiente sobre aqueles que aceitam a intervenção divina; a Graça não é amor, é o bisturi de um Deus amoroso que não aceita o pecado, principalmente sobre seus filhos; a Graça não é motivo para aceitar o pecado, mas a forma que Deus opera para nos santificar. Paulo deixa tudo isso tão claro em Romanos! Basta ler, mas ler seriamente, sem recortes e posições do tipo “isso tinha um significado, mas hoje quer dizer isso” – esse argumento é estúpido e parte do teísmo aberto que acha que Deus é incapaz de prever o futuro, e por tanto, de falar uma só vez (e assim eternamente falar) à todas as gerações através de sua Palavra revelada!

A Bíblia é clara, mas precisa ser lida com seriedade! O Caminho precisa de bereianos para controlar seus lideres bipolares – quando eles estão bem, estão bem; mas quando estes estão mal..... ai ai ai!

Que o Espirito da Verdade ilumine seu coração e te faça compreender a Palavra do Senhor!


"Agora, eis que eu, constrangido no meu espírito [...] não sabendo o que [...] acontecerá, senão o que o Espírito Santo me testifica [...], dizendo que me esperam prisões e tribulações. Mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus." Desejáveis palavras diante do inevitável! 

terça-feira, 12 de abril de 2011

12 Características da Santidade

JC Ryle, em seu livro “Santidade: Sem a qual ninguém verá o Senhor”, desenvolve 12 características da santidade, tanto em sua essência quanto na prática. Esse desenvolvimento pode parecer simplista a princípio, mas é rico em sua profundidade bíblica e possibilita a melhor compreensão do desenvolvimento da idéia de santidade que Ryle quer passar. Segue os 12 pontos da santidade destacados por Ryle:

1. Santidade é o habito de ser de uma só mente com Deus, de acordo com o que as escrituras descrevem como sendo a mente dele. É o habito de concordar com seu julgamento, odiando o que ele odeia, amando o que ele ama e comparando tudo neste mundo com o padrão de sua Palavra.


2. Um homem santo se esforçará para evitar cada pecado conhecido, e guardar cada mandamento revelado. A inclinação de sua mente será decisivamente direcionada para Deus. O desejo do seu coração será p de fazer a vontade do Pai. Ele temerá muito mais a desaprovação divina do que a do mundo e terá o mesmo sentimento que Paulo teve quando disse ‘Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus’ (Rm7.22)


3. Um homem santo se esforçará por ser como o Senhor Jesus Cristo. Ele não somente viverá uma vida de fé nEle, e dEle receberá paz e força para viver o dia-a-dia, mas também trabalhará para ter a mente de Cristo e ser conforme à sua imagem (Rm 8.29). O seu objetivo em relação às outras pessoas será o de andar ao lado delas, perdoá-las... ser generoso... caminhar em amor... ser manso e humilde... Ele guardará no coração as palavras de João: ‘Aquele que diz que permanece nEle, esse deve também andar assim como Ele andou’ (1Jo 2.6).


4. Um homem santo buscará mansidão, longaminidade, bondade, paciência, gentileza e controle da língua. Dará um bom testemunho, será muito paciente, tolerante para com os outros, e também não se apressará em exigir os seus direitos.


5. Um homem santo buscará temperança e auto-negação. Lutará para mortificar os seus desejos carnais, crucificar sua carne com suas tentações e lascívias, fugir das paixões e controlar suas inclinações carnais, sempre que elas se manifestarem. (Lc 21.34; 1Co 9.27)


6. Um homem santo buscará praticar a caridade e a fraternidade. Ele se esforçará por fazer para os outros o que gostaria que os outros fizessem para ele e falará dos outros o que gostaria que os outros falassem dele... abominará toda mentira, difamação, maledicência, engano, desonestidade e injustiça, mesmo nas pequenas coisas.


7. Um homem santo buscará misericórdia e bondade no trato com os outros... Será como Dorcas, ‘notável pelas boas obras e esmolas que fazia’, que não somente se propôs a fazer ou falou a respeito das obras, mas as praticou (At 9.36)


8. Um homem santo buscará a pureza de coração. Temerá toda a corrupção e impureza de espírito e tentará evitar as coisas que podem levá-lo a se contaminar. Ele sabe que o seu coração facilmente se inflama, e tentará cuidadosamente evitar a brasa da tentação.


9. Um homem santo buscará o temor a Deus. Não me refiro ao temor de um escravo, que somente trabalha para evitar a punição que receberá, caso seja descoberto sem fazer nada. Ao contrário, penso no temor de uma criança, que deseja viver e se locomover como se estivesse sempre com o seu vigilante pai por perto, porque sabe que ele a ama.


10. Um homem santo buscará humildade. Desejará, em sua mente simples e caridosa, ter os outros em mais alta estima do que a si mesmo. Também perceberá mais o mal existente em seu coração do que em qualquer outro neste mundo.


11. Um homem santo buscará fidelidade em todos os seus deveres e relacionamentos. Por seus motivos serem os mais sublimes, e contando com o adicional da ajuda divina, ele não se contentará apenas em cumprir suas obrigações, mas, melhor ainda, tentará ajudar aqueles que não se preocupam com a sua alma. Pessoas santas devem, em todos os momentos, desejar praticar o bem, e devem se envergonhar se algo de mal acontecer a alguém que elas poderiam ter ajudado. Elas devem lutar por ser boas esposas e bons maridos, bons pais e bons filhos, bons patões e bons empregados, bons vizinhos, bons amigos, bons cidadãos, bons em particular e em público, bons no local de trabalho e no ambiente familiar. O Senhor Jesus perguntou ao seu povo algo que exige reflexão, quando diz: ‘Que fazeis de mais?’ (Mt 5.47).


12. Por fim, um homem santo encherá sua mente com coisas espirituais. Tentará se concentrar inteiramente nas coisas do alto, não se apegando às coisas deste mundo... Ele buscará viver como alguém cujos tesouros estão no céu e cuja permanência nesta terra é vista apenas como a de um peregrino, que viaja para sua casa. Sua maior fonte de prazer está na comunhão com Deus por meio da oração, da leitura da Palavra e da reunião do seu povo. Ele dará valor à cada coisa, lugar e relacionamento, uma vez que esses fatores o trazem mais para perto de Deus.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Resposta ao Cidão

“Diante disso tudo qual é o papel relevante da Igreja? Em termos práticos o que vejo são dois extremos: ou a igreja é preponderantemente voltada p/ o termo missões c/ cunho social e deixa de lado o ensino e evangelismo ou o contrário é realidade. Não encontrei até hoje um meio termo entre missão / comissão e isso complica a vida de muitos cristãos.

Eu digo em termos práticos pq o cristianismo deve ser vivido e não teorizado, assumindo o lado acadêmico teológico como todos gostam de fazer e aí o ponto relevante é: como eu, enquanto cristão, posso tornar realidade concreta em minha vida o evangelho sem partir para um viés focado 100% discussões (que também tem sua importância e relevância dado a ausência de conhecimento das escrituras).” Vitor Cid - http://propostacrista.blogspot.com/2011/04/cristianismo-historico-relevante.html#comment-form


Cidão, antes de mais nada: a igreja só é relevante porque o evangelho é relevante. O evangelho é uma mensagem que está completa, uma mensagem que tem impacto sobre nossa vida, sobre nossa cosmovisão e sobre nosso destino final. Qualquer comunidade de fé que transmite o evangelho é relevante, mesmo quando na pratica ela não testemunhe através de atos de amor – ela é relevante porque o evangelho é relevante, mas ela está em coma e provavelmente morrerá se algo não for feito. Qualquer comunidade que tem atos de amor mas não comunica o evangelho não é relevante, é interessante, é bonita, mas não contribui em nada para a missão dada à igreja. Nossa relevância está na mensagem do evangelho e não em um dos frutos que o evangelho produz na vida da Igreja.

De fato é muito difícil encontrar/ser uma comunidade de fé que cumpra a missão da igreja com maestria. Essa dificuldade existe porque a Igreja é formada por pessoas imperfeitas. Nós buscamos sinceramente servir à Cristo com nossas vidas, nos dedicamos com zelo e com paixão, mas porque nossa natureza é corrompida pelo pecado, nossa paixão e zelo estão contaminados e, muitas vezes sem perceber, puxamos a sardinha para uma coisa ou para outra. Não sei se você percebeu as implicações do que eu disse então vou deixar bem evidente: eu estou admitindo que até que Cristo volte e nos glorifique seremos imperfeitos e não poderemos cumprir nenhuma missão com maestria – e quando ele voltar essa missão não será mais necessária. Ou seja, não importa o que viermos a fazer sempre deixaremos a desejar.

Você deve estar se perguntando: “então porque gastar tempo advogando por algo utópico?”. A questão é, mesmo com as imperfeições presentes na Igreja, com todas as bizarrices e todo direcionamento falho, a Igreja tem cumprido sua missão. Deus não nos teria dado uma missão intangível, Ele nos deu essa missão porque Ele nos capacitaria a cumprir essa missão.

 Pare para pensar sobre o como a Igreja historicamente sempre foi torta, sempre foi problemática, sempre teve facções e questões teológicas e éticas complicadíssimas – mesmo com tudo isso o evangelho chegou até nós, mesmo com tudo isso o evangelho se espalhou e a Igreja deu mais bom testemunho do que mau testemunho. Porque? Porque Deus garante que sua vontade aconteça, porque de geração em geração Deus levantou, tem levantado e levantará servos que enxerguem que a igreja tem desviado de seu propósito e intercedem de forma a fechar as brechas que comprometeriam o cumprimento de Seu propósito.

Pense na igreja como um barco à vela e a missão da Igreja como sendo chegar à uma determinada localização. Nós pegamos um mapa, traçamos a rota e partimos para nossa viagem.  Não cabe a nós controlar nem o vento nem as correntes marinhas, mas precisamos estar atentos às mudanças de vento para ajustarmos as velas e precisamos sempre verificar nosso posicionamento porque as correntes marinhas nos retiram de nossa rota quando nós menos esperamos (principalmente quando estamos parados). A teologia seria verificar os ventos – precisamos sempre verificar se o que estamos falando esta comunicando, verificar nosso posicionamento é avaliar se nossa teologia ainda é bíblica, porque se ela deixou de comunicar, ela nos deixou à deriva e quando estamos à deriva corremos um grande risco de naufragarmos. Quando Deus vê que a igreja está à deriva Ele dá ordens aos seus suboficiais, que por sua vez repassam as ordens à tripulação coordenando os esforços de forma que a Igreja volte a traçar a rota correta. Antes que isso pareça uma forma de deismo quero deixar bem claro que Deus os ventos, as marés, as tempestades, as luas – tudo opera de acordo com a vontade de Deus. Se a igreja fica à deriva e se desvia de tempos em tempos é porque Deus queria que a Igreja aprendesse a ser tripulada diante de condições diferentes, de forma a fazer com que a viagem não apenas seja concluída com o cumprimento de sua missão, mas de forma que essa missão Glorifique Deus e somente Deus.

Neste exato momento a Igreja está à deriva, e um dos problemas que eu vejo é que tem gente tentando ajustar as velas sem consultar os instrumentos para saber nosso posicionamento, e tem gente que sabe operar os instrumentos e sabe muito bem onde estamos mas não tem preocupação nenhuma em ajudar a ajustar as velas. Estamos à deriva porque muitos dos suboficiais estão mais preocupados com a manutenção de seus postos do que em escutar as ordens do capitão, e porque boa parte da tripulação está aproveitando a folga que surge pela falta de orientação/monitoramento de seus suboficiais.

Não sei se você percebeu que eu não generalizei o motivo de nossa deriva. Creio que temos muitos pastores que estão fazendo o que podem para conduzir a tripulação sob seu comando, e que temos muitos da tripulação que estão de fato trabalhando dobrado tentando fazer não só o seu serviço mas o dos outros também. Esses pastores e essas ovelhas são minoria e ficam ofuscadas diante da folga dos outros, mas eles estão ai. Eles estão ai, comunicando o evangelho e testemunhando, produzindo fruto e atos de amor que testificam o poder da mensagem do evangelho.

Resumindo, eu não estou fazendo uma critica pessimista, não estou falando que está tudo errado, estou chamando a atenção de quem eu puder de que o Capitão está falando e que precisamos voltar aos nossos postos e fazer o que nos é devido.

Você me perguntou o que você deveria fazer. Minha resposta pode parecer simplista, pode até mesmo parecer um chavão retrógrado: transmita o evangelho de forma dinâmica – proclame o evangelho e aprenda sobre as implicações que o evangelho tem sobre os cristão. Coloque seus dons e talentos à disposição do Capitão – faça de tudo para que o evangelho seja comunicado (as vezes isso significa executar tarefas mais administrativas para que outros possam assumir tarefas mais diretas – mas até as tarefas administrativas devem ser executadas com a paixão do front). Pregue em tempo e fora de tempo. Aprenda, medite e cresça em conhecimento e em maturidade. Viva sua vida de forma que tudo o que você fizer seja para Deus, para Glorificar Deus – se essa for sua intenção o testemunho será iminente e verdadeiro, e ai sim o social será algo que glorificará Deus.

Estou nadando contra a maré do pensamento de uma das pessoas que mais admiro, John Stott (está bem evidente naquele livro que eu te indiquei), mas estou convencido pela palavra de que essa é nossa missão e que a proclamação do evangelho (e quando digo proclamação estou pensando em comunicação) é de fato superior a qualquer outra coisa.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

CRISTIANISMO HISTÓRICO RELEVANTE

Tentar participar da Missio Dei (estabelecer o Reino; restaurar a criação) é uma inversão de papeis que evidencia a usurpação (conscientemente ou inconscientemente) da Gloria de Deus ou a ignorância (por desvio doutrinário ou ausência de doutrina). A Missio Dei pertence à Deus, a Missio ekklesia pertence à Igreja. A igreja não deve tentar cumprir a Missio Dei, apenas compreender o básico – Deus há de restaurar todo o cosmos em Cristo.

Uma vez entendido o Missio Dei a Igreja deve cumprir o Missio Ekklesia que se resume na grande comissão. Isso não significa que a Igreja deve se fechar em seu gueto, mas pelo contrario, ela deve ser aberta, se envolver, aprender sobre as culturas que a cercam e proclamar as boas novas.

O discurso de estabelecer o reino de Deus restaurando a criação tem assumido um lugar de destaque nos púlpitos através do termo justiça social. Não sou contra as boas obras – nem de longe, mas sou contra a inversão de papeis, a desvalorização da proclamação do evangelho e a secularização do púlpito.

A justiça social não é parte do Missio Ekklesia mas a evidência de que parte do discipulado foi bem feito – PARTE, porque quando ensinamos que devemos amar ao próximo como a nós mesmos devemos também deixar bem evidente que “este presente sofrimento é passageiro” e que o amor deve gerar antes de mais nada uma angustia pela salvação eterna. Um amor que se preocupa com o sofrimento presente mais do que com o sofrimento eterno não é amor, é o peso na consciência que qualquer um, cristão ou não cristão, sente ao ver a desgraça alheia.  Da mesma forma, um amor que se preocupa com o sofrimento eterno sem reconhecer o sofrimento presente não é o amor que Cristo nos ensinou, mas sim uma fuga legalista.

Infelizmente os dois maus exemplos são os com maior evidência e adesão, e perto das heresias pesadas de nossos dias passam batidos como “cristianismo relevante” e como “cristianismo histórico”. Mas uma coisa é certa: nenhum destes é relevante nem muito menos histórico, pois a relevância do cristianismo se faz evidente em sua história de sacrifício e desprendimento pessoal – sempre no cumprimento da missão da igreja, evidenciando um discipulado bíblico, um discipulado que possibilitou verdadeiros atos de amor e verdadeira preocupação evangelística. Isso sim é relevante, isso sim é histórico – isso sim é a Missio Ekklesia!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Não deixe a peteca cair

Texto preparado para minha participação no Café com Reflexão da CAF


Reflexões são fundamentais para que possamos acertar “nosso norte”, nossa direção – isso é uma máxima que vale para todas as esferas de nossas vidas. Seminários, palestras, cultos e até mesmo conversas podem nos estimular a trabalhar em função de nobres causas – uma busca que, se não pautada em plano de ação, normalmente se reduz a um sonho restrito ao “plano da vontade onírica”, um plano um tanto quanto distante da realidade transformadora.
Os maiores problemas ligados à concretização de altos ideais normalmente se encontram no lançar os alicerces da causa. Lançar os alicerces da causa que se deseja trabalhar não se restringe em defender a importância da causa – para falar a verdade, dificilmente esta etapa inicial começa com a promoção da causa.
Transformar as pessoas da comunidade onde se pretende trabalhar a causa é a primeira etapa para se trabalhar a causa. Por mais que isso pareça com um discurso surrado, esgotado em muitos púlpitos, na verdade é o mesmo princípio utilizado em grandes empresas; nessas empresas isso é chamado de “mudanças na cultura organizacional” – portanto, se for preciso impressionar a opinião comunitária, utilize esse termo, “mudança na cultura organizacional” afinal, o crédito dado a um discurso cheio de termos de gestão é uma tendência moderna e não tem nada de errado em saber usar as ferramentas tão apreciadas pelo homem pós-moderno.
Existe muito preconceito com relação às mudanças na cultura organizacional. O primeiro e principal de todos esses preconceitos normalmente se encontra na mente daqueles que se propõe a iniciar tal mudança, ele se chama “menosprezar a importância da tarefa”.   Quando se menospreza a importância da transformação na cultura organizacional, lança-se a esta tarefa com despreparo – e aquilo que é fundamental para que a causa seja trabalhada de forma sustentável em uma determinada comunidade é reduzido a um discurso comovente, capaz de constranger a comunidade temporariamente, mas que logo perde seu efeito.
Mudar a cultura organizacional requer planejamento. Não basta saber o fim desejado, é necessário prever as etapas necessárias para se chegar a este fim e propor ações que possibilitem que estas etapas sejam cumpridas. Sugiro aqui algumas idéias para auxiliar na implantação de um processo de “mudança na cultura organizacional” de sua comunidade, essas idéias não são a formula mágica que fará tudo dar certo, mas são alguns pontos que identifiquei após algum sucesso e muito fracasso com minhas próprias iniciativas.
1.           Conheça a cultura comunitária
a.    A história da comunidade
b.    Os valores da comunidade
c.    Os formadores do opinião nesta comunidade
d.    Lembre-se que a cultura comunitária não pode ser descaracterizada, mas precisa somente se apropriar de algo novo. A cultura comunitária é o que dá “liga” à comunidade e a perda desta será o fim da comunidade como tal.
2.           Identifique os pecados comunitários
a.    O pecado pessoal se torna comunitário, é preciso auxiliar o fiel a vencer seu pecado pessoal
b.    Existem ídolos comunitários: jejum e oração os evidenciará
c.    Jejum e oração evidenciam o pecado, a ação transformadora trata o pecado como um antídoto que precisa ser ministrado de forma controlada e progressiva.
3.           Promova a causa
a.    Conhecer os caminhos para promover a causa e ter o terreno preparado é meio caminho andado
b.    Pequenas idéias associadas a um ideal maior. Não afogue sua comunidade com ideais tão altos que se tornam impossíveis. Lance propostas menores do que o ideal como um todo para que a comunidade possa se adequar ao ideal da causa aos poucos.
c.    Babysteps (passos de bebe). Não corra, ande conforme a firmeza que tiver. É melhor demorar mais para começar a andar do que se aventurar a querer correr e se ferir. Pequenas ações, por menor que seja o impacto destas para a causa são preferíveis a ações “edição limitada”.
d.    Incentive e valorize as pequenas ações. Como diz o dito popular “de grão em grão a galinha enche o bico”, da mesma forma a causa é trabalhada. De pequena ação em pequena ação. Grandes ações de grande impacto são muito boas, mas a causa precisa ser trabalhada progressivamente, precisa de continuidade. Valorize a constância, valorize o empenho, valorize o pequeno – cuide bem das pequenas sementes que Deus te deu, nunca se sabe qual delas se tornará uma grande e frutífera árvore.
e.    Ligue os pontos.  Quando a comunidade já estiver familiarizada com as propostas lançadas de forma controlada, ligue os pontos entre essas idéias e o ideal da causa, entre as ações promovidas e o impacto delas para a causa - faça isso de forma positiva, ou seja, não enfoque no problema mas sim no como a comunidade já tem contribuído com essa causa através das ações que já tem exercido. Isso incentiva a comunidade não apenas a continuar o trabalho que já tem realizado, mas a se empenhar cada vez mais com a causa.

Já pensou no impacto local de ter outros irmãos, outras comunidades, empenhadas com esta causa? Já pensou no que poderá ser realizado? Bem, isso já fica para o próximo Café, afinal, precisamos aprender a andar antes de corrermos.

Não deixe a peteca cair, não deixe a reflexão se tornar um sonho cativo ao plano onírico.  A mudança na cultura organizacional em sua comunidade começa hoje em você. Não coloque o que você ouviu hoje em um canto escondido de sua vida, mas utilize tudo isso como complemento para sua meditação pessoal. Faça perguntas como:
  1. Será que tenho orado sinceramente sobre esta causa e sobre meu envolvimento com ela? Será que estou de fato pronto para promover uma causa ou será que ainda tenho poste-idolos que precisam ser derribados em minha própria vida?
  2. O que posso fazer no próximo mês considerando o que foi ouvido no Café com Reflexão?
  3. Com quem posso compartilhar este sonho? Quem poderá orar comigo sobre esta causa?
  4. O que espero que aconteça em minha comunidade tendo em vista a prevenção e o acolhimento?

Eu sinceramente espero que você e sua comunidade encontrem a alegria de se cumprir o propósito Deus para a igreja.

Que Deus os abençoe!