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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Resposta ao Cidão

“Diante disso tudo qual é o papel relevante da Igreja? Em termos práticos o que vejo são dois extremos: ou a igreja é preponderantemente voltada p/ o termo missões c/ cunho social e deixa de lado o ensino e evangelismo ou o contrário é realidade. Não encontrei até hoje um meio termo entre missão / comissão e isso complica a vida de muitos cristãos.

Eu digo em termos práticos pq o cristianismo deve ser vivido e não teorizado, assumindo o lado acadêmico teológico como todos gostam de fazer e aí o ponto relevante é: como eu, enquanto cristão, posso tornar realidade concreta em minha vida o evangelho sem partir para um viés focado 100% discussões (que também tem sua importância e relevância dado a ausência de conhecimento das escrituras).” Vitor Cid - http://propostacrista.blogspot.com/2011/04/cristianismo-historico-relevante.html#comment-form


Cidão, antes de mais nada: a igreja só é relevante porque o evangelho é relevante. O evangelho é uma mensagem que está completa, uma mensagem que tem impacto sobre nossa vida, sobre nossa cosmovisão e sobre nosso destino final. Qualquer comunidade de fé que transmite o evangelho é relevante, mesmo quando na pratica ela não testemunhe através de atos de amor – ela é relevante porque o evangelho é relevante, mas ela está em coma e provavelmente morrerá se algo não for feito. Qualquer comunidade que tem atos de amor mas não comunica o evangelho não é relevante, é interessante, é bonita, mas não contribui em nada para a missão dada à igreja. Nossa relevância está na mensagem do evangelho e não em um dos frutos que o evangelho produz na vida da Igreja.

De fato é muito difícil encontrar/ser uma comunidade de fé que cumpra a missão da igreja com maestria. Essa dificuldade existe porque a Igreja é formada por pessoas imperfeitas. Nós buscamos sinceramente servir à Cristo com nossas vidas, nos dedicamos com zelo e com paixão, mas porque nossa natureza é corrompida pelo pecado, nossa paixão e zelo estão contaminados e, muitas vezes sem perceber, puxamos a sardinha para uma coisa ou para outra. Não sei se você percebeu as implicações do que eu disse então vou deixar bem evidente: eu estou admitindo que até que Cristo volte e nos glorifique seremos imperfeitos e não poderemos cumprir nenhuma missão com maestria – e quando ele voltar essa missão não será mais necessária. Ou seja, não importa o que viermos a fazer sempre deixaremos a desejar.

Você deve estar se perguntando: “então porque gastar tempo advogando por algo utópico?”. A questão é, mesmo com as imperfeições presentes na Igreja, com todas as bizarrices e todo direcionamento falho, a Igreja tem cumprido sua missão. Deus não nos teria dado uma missão intangível, Ele nos deu essa missão porque Ele nos capacitaria a cumprir essa missão.

 Pare para pensar sobre o como a Igreja historicamente sempre foi torta, sempre foi problemática, sempre teve facções e questões teológicas e éticas complicadíssimas – mesmo com tudo isso o evangelho chegou até nós, mesmo com tudo isso o evangelho se espalhou e a Igreja deu mais bom testemunho do que mau testemunho. Porque? Porque Deus garante que sua vontade aconteça, porque de geração em geração Deus levantou, tem levantado e levantará servos que enxerguem que a igreja tem desviado de seu propósito e intercedem de forma a fechar as brechas que comprometeriam o cumprimento de Seu propósito.

Pense na igreja como um barco à vela e a missão da Igreja como sendo chegar à uma determinada localização. Nós pegamos um mapa, traçamos a rota e partimos para nossa viagem.  Não cabe a nós controlar nem o vento nem as correntes marinhas, mas precisamos estar atentos às mudanças de vento para ajustarmos as velas e precisamos sempre verificar nosso posicionamento porque as correntes marinhas nos retiram de nossa rota quando nós menos esperamos (principalmente quando estamos parados). A teologia seria verificar os ventos – precisamos sempre verificar se o que estamos falando esta comunicando, verificar nosso posicionamento é avaliar se nossa teologia ainda é bíblica, porque se ela deixou de comunicar, ela nos deixou à deriva e quando estamos à deriva corremos um grande risco de naufragarmos. Quando Deus vê que a igreja está à deriva Ele dá ordens aos seus suboficiais, que por sua vez repassam as ordens à tripulação coordenando os esforços de forma que a Igreja volte a traçar a rota correta. Antes que isso pareça uma forma de deismo quero deixar bem claro que Deus os ventos, as marés, as tempestades, as luas – tudo opera de acordo com a vontade de Deus. Se a igreja fica à deriva e se desvia de tempos em tempos é porque Deus queria que a Igreja aprendesse a ser tripulada diante de condições diferentes, de forma a fazer com que a viagem não apenas seja concluída com o cumprimento de sua missão, mas de forma que essa missão Glorifique Deus e somente Deus.

Neste exato momento a Igreja está à deriva, e um dos problemas que eu vejo é que tem gente tentando ajustar as velas sem consultar os instrumentos para saber nosso posicionamento, e tem gente que sabe operar os instrumentos e sabe muito bem onde estamos mas não tem preocupação nenhuma em ajudar a ajustar as velas. Estamos à deriva porque muitos dos suboficiais estão mais preocupados com a manutenção de seus postos do que em escutar as ordens do capitão, e porque boa parte da tripulação está aproveitando a folga que surge pela falta de orientação/monitoramento de seus suboficiais.

Não sei se você percebeu que eu não generalizei o motivo de nossa deriva. Creio que temos muitos pastores que estão fazendo o que podem para conduzir a tripulação sob seu comando, e que temos muitos da tripulação que estão de fato trabalhando dobrado tentando fazer não só o seu serviço mas o dos outros também. Esses pastores e essas ovelhas são minoria e ficam ofuscadas diante da folga dos outros, mas eles estão ai. Eles estão ai, comunicando o evangelho e testemunhando, produzindo fruto e atos de amor que testificam o poder da mensagem do evangelho.

Resumindo, eu não estou fazendo uma critica pessimista, não estou falando que está tudo errado, estou chamando a atenção de quem eu puder de que o Capitão está falando e que precisamos voltar aos nossos postos e fazer o que nos é devido.

Você me perguntou o que você deveria fazer. Minha resposta pode parecer simplista, pode até mesmo parecer um chavão retrógrado: transmita o evangelho de forma dinâmica – proclame o evangelho e aprenda sobre as implicações que o evangelho tem sobre os cristão. Coloque seus dons e talentos à disposição do Capitão – faça de tudo para que o evangelho seja comunicado (as vezes isso significa executar tarefas mais administrativas para que outros possam assumir tarefas mais diretas – mas até as tarefas administrativas devem ser executadas com a paixão do front). Pregue em tempo e fora de tempo. Aprenda, medite e cresça em conhecimento e em maturidade. Viva sua vida de forma que tudo o que você fizer seja para Deus, para Glorificar Deus – se essa for sua intenção o testemunho será iminente e verdadeiro, e ai sim o social será algo que glorificará Deus.

Estou nadando contra a maré do pensamento de uma das pessoas que mais admiro, John Stott (está bem evidente naquele livro que eu te indiquei), mas estou convencido pela palavra de que essa é nossa missão e que a proclamação do evangelho (e quando digo proclamação estou pensando em comunicação) é de fato superior a qualquer outra coisa.

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