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sábado, 18 de setembro de 2010

Revisão doutrinária - analisando as catequeses e as confissões de fé (parte I)

Nós, cristãos históricos, muitas vezes temos nossos pressupostos de fé expressos em confissões elaboradas por renomados teólogos do passado. Isso só se torna um problema quando passamos a confiar nestas confissões por qualquer motivo que não seja o de reconhecer nelas aquilo que entendemos ser verdade. Por isso a confissão para ter verdadeiro valor deve ser aceita pelo que expressa e não pelo que achamos que ela expressa.

O catecismo cristão entende que a fé vem pelo “ouvir a palavra de Deus” e, portanto, busca explorar verdades e doutrinas expressas na palavra de Deus, a bíblia. O conhecimento que é produzido pelo catecismo deve guiar o cristão à uma fé autentica e madura que o habilite a cumprir seu pleno propósito.

O catecismo não existe para criar conformidade com uma declaração de fé, mas é de fato um método que, quando exercido de forma coerente, nos conduz a refletir sobre as verdades da expressas na Bíblia. Essa reflexão pode nos levar a concordar com uma declaração de fé já existente ou até mesmo a revisá-la ou a lavrar uma nova declaração, mas o propósito da catequese não é o de estabelecer conceitos necessários para a aceitação dentro de um grupo social especifico e sim de produzir uma fé racional e madura.

Muitas vezes surgem criticas às confissões de fé, como se estas fossem agressivas ou irrelevantes ao homem moderno. A maior parte destas críticas surge não por que essas confissões confrontam seus valores modernos mas sim por não dialogar com o homem moderno. Este problema não reside no passado, pois no seu devido momento histórico, dentro do contexto em que foram redigidas, o textos e a fundamentações destas confissões foram plenos. Naquele momento histórico dialogavam com o homem daquela época. O problema esta no fato de que o catecismo não foi capaz de produzir renovo a estas declarações, tornando-se de fato um método de conformar o iniciado a conclusões distantes de sua realidade. O problema não esta na verdade bíblica e sim na compreensão e transmissão destas verdades.

O homem moderno é mais complexo que o renascentista, mais complexo que o vitoriano, e, aquilo que comunicava com clareza ao homem do passado se torna loucura aos ouvidos do homem moderno. Essa loucura, como muitas vezes somos confortavelmente levados a crer, não se dá pelas verdades bíblicas em si, mas pelo fato de que não conseguimos nos comunicar com o homem moderno porque usamos símbolos que para ele tem significados muito diferentes. Isso pode passar desapercebidos em comunidades que permanecem fechadas em seus guetos, onde o catecismo faz parte de sua iniciação e deixa de ser um método de produção de conhecimento e maturidade cristã.

A declaração de fé será acatada, revisada ou refutada conforme reconhecermos ou não reconhecermos nela aquilo que cremos. O problema então não esta na declaração de fé e sim mas na nossa habilidade de refletir e possuir verdadeiro conhecimento daquilo que dizemos crer. Se os cristãos de fato cressem no que alegam crer a cristandade seria muito diferente!

Precisamos repensar a educação cristã dentro da igreja, pois se temos graves problemas de identidade e volubilidade teológica e moral é porque não estamos preparando os cristãos de forma adequada para viverem em um mundo pluralista, relativista, pragmatista que muitas vezes usa os mesmos símbolos que nós usamos, mas com outros significados.

Como disse anteriormente, se os cristãos de fato cressem no que alegam crer a cristandade seria muito diferente! Muitas vezes reproduzimos as confissões de fé que fundamentam nossas instituições religiosas sem refletirmos profundamente no que elas dizem. Isso não quer dizer que não cremos nelas, mas que possivelmente construímos nossas convicções através de pequenos saltos de fé faltando. Desta forma nossa fé se torna existencialista, não racional e sujeita a falhar na confrontação de suas alegações. Entender que precisamos refletir com mais cuidado sobre as catequeses e as confissões de fé não é de forma nenhuma um confronto à idoneidade daqueles que nos passaram nossas doutrinas e daqueles que elaboraram as confissões onde estas se encontram. A analise e reflexão são na verdade uma forma de honrar, participando e, em alguns casos, continuando o trabalho destes homens de valor.

As antigas catequeses e declarações de fé nunca devem ser descartadas por puro capricho modernista, por mais inviável que possam parecer, pois fazem parte de nossa cultura. O que precisamos é voltar para a elaboração destas declarações e catequeses e entender o ponto de partida de suas colocações, sua essência. Para tantos precisamos entender melhor a metodologia utilizada, a diferença entre a nossa compreensão dos símbolos utilizados e seus significados originais. Só assim poderemos traduzir essas confissões e catequeses de forma a viabilizar uma analise crítica destes documentos. Assim poderemos entender o verdadeiro valor destes documentos e ferramentas históricas, trabalhar seus conceitos e comunicar sua relevante e transformadora essência, essência essa tão necessária ao homem moderno.

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