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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Chega a hora de votar novamente...

por Mauro Meister


As eleições se aproximam e a frustração diante da situação política da nação cresce. Vemos todo tipo de propaganda política, das mais ridículas e/ou intelctualóides até algumas que fazem algum sentido. Na internet correm milhares de emails com as mais estranhas ideias a respeito de política e políticos, inclusive a crescente campanha ‘eu não voto em pastor’, que deve ter muitos adeptos entre evangélicos e não evangélicos (com provável razão). Em alguns casos, denominações fecham apoio político com um ou mais candidatos e pressionam seus fiéis a votarem, num tipo de antigo ‘voto de cabresto’. Existem, ainda, aqueles que entendem que a separação entre Igreja e Estado envolve o silêncio absoluto de pastores e líderes quanto a política, ou seja, no ensejo de separar as esferas de soberania, as igrejas locais e seus líderes devem ficar mudos... Tudo isto faz com que tomar uma decisão de voto se torne ainda mais difícil.

É obvio que quando nos voltamos para as Escrituras não vamos encontrar instruções diretas sobre como votar nas eleições brasileiras. Logo, temos que buscar os princípios da Escritura que nos orientam na escolha de nossos líderes, na igreja e fora dela.

Volto-me para o texto em que Moisés é orientado por seu sogro, Jetro, na escolha de líderes para ajudá-lo no árduo trabalho de julgar o povo durante a sua caminhada pelo deserto (Êxodo 18):


21 Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dez; 22 para que julguem este povo em todo tempo. Toda causa grave trarão a ti, mas toda causa pequena eles mesmos julgarão; será assim mais fácil para ti, e eles levarão a carga contigo. 23 Se isto fizeres, e assim Deus to mandar, poderás, então, suportar; e assim também todo este povo tornará em paz ao seu lugar. 24 Moisés atendeu às palavras de seu sogro e fez tudo quanto este lhe dissera. 25 Escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os constituiu por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dez. 26 Estes julgaram o povo em todo tempo; a causa grave trouxeram a Moisés e toda causa simples julgaram eles. 27 Então, se despediu Moisés de seu sogro, e este se foi para a sua terra.

O que este texto nos ensina, basicamente, é que deve-se buscar para a liderança do povo homens com determinados traços na sua capacidade e caráter:

• Capazes
• Tementes a Deus
• Homens de verdade
• Que aborreçam a avareza

Logo, ao buscar o candidato em quem votar, deve-se buscar alguém competente para desempenhar seu papel político, com competência, habilidade e compromisso na qualidade de agente político. Votar em alguém incompetente é votar contra a nação. Dificilmente os candidatos são ‘marinheiros de primeira viagem’, logo, neste quesito é possível avaliar grande parte dos candidatos.

No segundo ponto, ‘tementes a Deus’, fica mais difícil de avaliar, mas não é impossível. Obviamente um candidato não cristão não poderá ser ‘temente a Deus’. No entanto, ao tratar-se de votos para cargos políticos, não precisamos, primariamente, escolher “políticos crentes”. Se pudéssemos ajuntar as duas coisas, melhor, mas caso não seja possível, precisamos observar a ideologia do candidato e verificar se suas propostas políticas não são conflitantes com os princípios mais básicos da fé cristã. Mesmo os candidatos não cristãos podem manifestar conceitos e ideais que se aproximem mais dos valores do cristianismo. Não podemos nos esquecer que Deus criou o homem com consciência e esta pode estar mais ou menos cauterizada pela prática do pecado. Observar a vida de um candidato pode nos mostrar a respeito de sua consciência.

O terceiro aspecto trata do caráter do candidato. Os seus candidatos são homens que costumam falar a verdade e sustentá-la em meio às tempestades políticas? São candidatos que lutaram pelas propostas que fizeram nas últimas eleições ou em cargos que ocuparam? Estão envolvidos em casos de corrupção? Tem coragem de declarar seu voto? Estas são perguntas básicas que podem servir de guia para nossa busca de ‘homens da verdade’.

O quarto e último quesito torna-se mais fácil de ser avaliado com as novas regras eleitorais estabelecidas que exigem a publicação na internet a declaração de bens dos candidatos. Mas também significa estar sintonizado com o que o político tem feito em sua vida pública, quais os escândalos nos quais tem se envolvido; quais as negociatas das quais tem participado. Aborrecer a avareza é o antônimo de enriquecimento ilícito, escândalos, fuga de esclarecimentos e atitudes duvidosas diante de problemas. A avareza é sinônima da aceitação de suborno e perversão do direito.

Tenho dificuldade com os pontos IV e IX do Decálogo do Voto Ético publicado em 1998 pela Associação Evangélica Brasileira, mas, no cômputo geral, me parece uma boa orientação quanto ao que não se deve fazer com o voto:

► I. O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País, Estado e Município;
► II. O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade numa outra direção;
► III. Os pastores e líderes têm obrigação de orientar os fiéis sobre como votar com ética e com discernimento. No entanto, devem evitar transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;
► IV. Os líderes evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates multi-partidários, nos quais, simultânea ou alternadamente, os vários representantes de correntes políticas possam ser ouvidos sem pré-conceitos; (tenho dificuldades com este ponto. Minha preocupação principal é que a confusão tome conta do povo de Deus ao ver seus líderes promoverem este tipo de debate e que, finalmente, estes debates acabem por descambar em promoção de apoio explícito de um ou de outro candidato)
► V. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil deve levar os pastores a não tentar conduzir processos político-partidários dentro da igreja, sob pena de que, em assim fazendo, eles dividam a comunidade em diversos partidos;
► VI. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidas com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo religioso ou de uma denominação evangélica. É óbvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão política. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político evangélico tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um “despachante” de igrejas.
► VII. Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais aceitar a desculpa de que um político evangélico votou de determinada maneira, apenas porque obteve a promessa de que, em fazendo assim, ele conseguirá alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, terrenos para templos, linhas de crédito bancário, propriedades ou outros “trocos”, ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais “acertos” impliquem a prostituição da consciência de um cristão, mesmo que a “recompensa” seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Afinal, Jesus não aceitou ganhar os “reinos deste mundo” por quaisquer meios. Ele preferiu o caminho da cruz;
► VIII. Os eleitores evangélicos devem votar, para Presidente da República, sobretudo, baseados em programas de governo, e não apenas em função de “boatos” do tipo: “O candidato tal é ateu”; ou: “O fulano vai fechar as igrejas”; ou: “O sicrano não vai dar nada para os evangélicos”; ou ainda: “O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos”. É bom saber que a Constituição do país não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é válido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um candidato com o qual estejam comprometidos;
► IX. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: “o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto”, é de bom alvitre que, ainda assim, se dê um “voto de confiança” a esse irmão na fé, desde que ele tenha as qualificações para o cargo. A fé deve ser prioritária às simpatias ideológico-partidárias.(minha observação: nem sempre! Apesar de alguns andarem propagando que programa de partido não é programa de governo, o partido, supostamente, defende algumas idéias que devem ser comparadas com os absolutos de justiça que emanam de Deus às sociedades. O irmão que entra em uma canoa furada pode naufragar junto com ela. Ele não tem o direito de esperar um milagre divino que o salve, fazendo-o andar sobre as águas).
► X. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ele ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.

Num pequeno artigo, nosso colega, Dr. Valdeci Santos, levanta 4 pontos muito pertinentes quanto ao votar em candidatos evangélicos:

1. Descubra se o candidato evangélico é um evangélico candidato;
2. Conheça o conceito de “serviço cristão” que o candidato possui;
3. Procure fazer distinção entre caráter e carisma;
4. Entenda que o moto “irmão vota em irmão” só é justificado quando o irmão em Cristo possui vocação política comprovada (e adiciono, uma agenda política apropriada).

No mais, eu gostaria de encontrar candidatos que se encaixassem no perfil e que nosso espaço no blog servisse para que apresentássemos perfis, ferramentas de busca para candidatos. Fundamental, em tudo, é obedecer a ordem de Paulo na carta a Timóteo:



Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, 2 em favor dos reis de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito.( 1Tm 2:1-2)

Mensagem original em: http://tempora-mores.blogspot.com/2006/09/chega-hora-de-votar-novamente.html

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